quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Ferida

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Então ela cuspiu as palavras:

- Sim, eu fiz merda.

Acabei com tudo, não pensei, apenas fiz e pronto. O que é? Não venha com esse papinho cult para cima de mim, porque oh, como você é infantil, apenas uma criança, nunca nem leu Saramago. É mesmo, meu bem? E você sempre com essas conversinhas, pagando de inteligente e conquistando meninas (burras), só pra daqui a 5 anos descobrir que é gay, porque és um bom intelectual da nata criativa e só podia acabar assim, mon amour. Não, não tô feliz não, não saio por aí esbanjando alegria, não, querida. Sim? Ah, você então é anormal, nunca levou um pé na bunda? É mesmo, coitada, onde você acha que Chico e Caio aprenderam tudo? Ah, não, desculpa, você não sabe o que é isso, sou sincera, qual é a cor da minha unha? É Noite Quente, meu bem, éééé, sou ousada, não combina comigo? Não tou histérica, não, só tô falando a verdade, querido, já se desacostumou? Mas não era teu o papo de não mente que é feio, garota, você sempre dizia, não fala palavrão, não é bonito. Ai, e ainda tenho coragem de dizer que não aprendi nada contigo? Que ingrata que eu sou. Não, obrigada.
Se sinto falta? Claro, por que não?, não vou mentir, é bom ter alguém pra puxar o cabelo, bater e falar besteira, e nem olhando em volta eu consigo esconder esse vazio que teima em não sair daqui de dentro. Mas desde sempre foi assim, não é? Sempre o vazio, a sensação de ninguém-me-quer, nada de novo. Não se superestime não, meu amor, você não criou isso, apenas piorou, mas nada que um porre não resolva.
Agora a gente finge, e para de me tratar como uma doente que eu não gosto dessas coisas. Deixe-me então repetir os meus clichês, combinado? Não quero ser julgada:

- Sim, - eu cuspo - fiz merda.

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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A Escrivaninha Azul

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Para falar do deserto, ela queria alguém. O café esfriava em cima da escrivaninha azul - fora difícil encontrar uma que lhe agradasse: sempre foi mais complicada em relação a gostos, perfeccionista desde criança. Lembrava como havia achado aquela maravilha, foi como a chamou, "maravilha", num brechó lá perto de Santa Teresa, ô bairrozinho aconchegante.

Vai levar?, perguntara o homem do caixa, sorrindo divertido por trás dos óculos pretos. Tinha um ar de riso diferente, sorria charmoso, mas não com a boca - e isso era o mais interessante -, porém com os olhos.
A escrivaninha azul, vais levar?, indagou ele, um pouco mais alto, enquanto ela se virava surpresa - tinha mais alguém ali? Ora, nem percebera, era engraçadíssimo como podia passar tempos e tempos entretida consigo, afinal, era tanta coisa para pensar.

- Vou, vou, acho que sim. Me apaixonei por esta escrivaninha, e azul? Quantas ideias não vou ter, sentada com ela na madrugada, e o cheiro de madeira velha tornando tudo mais... Desculpe, o que você perguntou? Ah, sim: vou levar.
- Acontece às vezes quando você desacostumou a ter alguém pra conversar. - Ele falou, aquele sorriso enigmático outra vez.
- Desculpe? Não entendi o que você disse.
- Eu disse que pensar alto acontece às vezes quando você se desacostumou a ter alguém para conversar.
Ela parou por um segundo. O quê?
- E como você saberia disso? - Perguntou.
Ele sorriu, sincero, desta vez com os lábios:
- Sua expressão confusa quando pensa antes de falar. Conheço bem, cultivei-a por um bom tempo.

Ele era bonito. Cabelos escuros, dentes branquíssimos quando se deixava sorrir, e aqueles olhos castanhos que pareciam, sei lá, ela pensou... Guardar o mundo?
- Digamos que estejas certo... Que conselho me darias, então? - Decidiu entrar na brincadeira. Dividindo a casa com mais três pessoas, desacostumar-se a conversar seria algo até bem-vindo... Riu sozinha.

- Ora, o que eu fiz. - Ela esperou, curiosa. - Escreves um livro. Poderás contar até teus sonhos mais loucos, que não serás julgada por ninguém. Quando isso já não for o bastante, começarás a pôr no papel tudo aquilo que sempre quis, mas nunca achou que conseguiria. E quando se cansar, tirarás, enfim, essa expressão confusa do rosto.

O que diabos? Ele agia como se escondesse um segredo lá no fundo; o que seria? Um amor não-correspondido não, muito clichê.

- Tudo bem... Como se chama?
- Paulo.
- Paulo? O nome do meu pai.
- Ele deve ser um cara legal.
- E é.
Sorriram um para o outro. Paulo, misterioso. Andréa, encantada.
- Vais levar, então?
- Ah. A escrivaninha. Vou levar. Gostei muito.
- Lembra de mim sentada com ela na madrugada, e o cheiro de madeira velha. - Ele pediu.
- Certo, claro. Não daria para esquecer - pensou alto outra vez.

Ele riu. Ela ficou vermelha. Maldita mania de falar os pensamentos em voz alta.
- Eu divido o apartamento com mais três, é gente falando comigo toda hora, se você soubesse... Até pedir para fazerem silêncio, eu peço. É muita gente falando.
- Imagino.
- Sério.
- Tudo bem.
Parou por outro segundo. Por que se sentia uma criança mal-comportada perto dele? Não era justo. E como se não conseguisse parar de falar, ou apenas não quisesse, continuou:

- Porque não é verdade o que você disse. Mas eu achei curioso, então pedi um conselho, e você me falou para escrever um livro, e até achei engraçado, porque de fato eu escrevo, sabe, e não como um hobbie, na verdade estou esperando a resposta de uma editora no momento, que nunca chega, mas tudo bem, sou paciente, e enquanto isso tenho pessoas para conversar, sim, me distraio até, enquanto espero.

- Eu quis dizer que te falta alguém pra ligar às 3 da manhã sem se sentir constrangida.

Hein? Fazia calor lá dentro, embora as janelas estivessem todas abertas e fosse julho. Mas, afinal, era o Brasil, país de uma estação só, sol-e-praia.

- Um amigo de infância, sabe? Que escuta o que tu pensas antes mesmo de tu falar; vi que te faltava isso. Mas sempre falta algo, é o que te empurra pra vida, entendes? Nada pode ser completo, senão a pessoa enlouquece, não consegue continuar, porque não existe mais sentido. Eu tenho cá pra mim que ser humano não vive sem problema: tem que ter algum, se não, inventa. É uma maneira de achar que estás evoluindo, sabe? Porque, querendo ou não, um dia você resolve esse problema e ele fica pra trás; tem gente que inventa três ou quatro problemas de uma só vez, aí demora mais pra resolver.

- E se ninguém inventasse, aí a vida não teria sentido?

- Exatamente.

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domingo, 14 de novembro de 2010

Fragmentou-se

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Gosto do gosto de gostar de alguém. Talvez, assim, só um pouquinho, só um pouquinho eu precise de alguém, de um carinho, de um sorriso de aprovação, de uma companhia naqueles dias, pra compartilhar, mas eu não quero, eu não quero, eu não quero não quero não.

E agora, o que faço? Se decida, querida, o que você procura? Mas eu não sei responder, ou melhor, sei, sei sei sei sim, sozinha, quero alguém, não, não quero, vida, jovem, louca, não, não foi isso que eu quis dizer, quis?
Agora você me confundiu, essa coisa que é o amor, ele me confundiu, me enganou, disse que era, depois sumiu, desapareceu, não está mais, procuro?, não sei, ainda não resolvi, mas eu vou eu vou eu vou. Pr'onde? Essa é a questão, pra onde cê vai? Melhor: não vais? Ah, eu sempre soube, você nunca se decide, não sabe se passa ou fica, calma que eu não gosto de ser pressionada, mas querida o tempo passa, corre, voa, suba, suba, suba alto, mas não se esqueça de ficar lá.
Não desejas passar por isso depois, ou sim?

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Pedaço de mim?

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É estranho como de vez em quando dá uma pontada, a cabeça gira, e o pulmão fica sem ar. Não é amor, nem saudade. São apenas... Lembranças.

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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ama, não ama, se ama

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Não dá, ela disse.

É sempre assim:
Quando acho que gosto
Vem uma onda
Um choque
Ou um não que acaba com tudo.
Por quê?
Melhor era não conhecer, não saber
Não existir.
Frustração é a palavra
E escuro o gosto.

Só não me fale demais sobre você, posso me decepcionar.


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sábado, 6 de novembro de 2010

Um cantinho, um violão

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E a vida continua, sempre... Tá tudo tão lindo, é primavera e eu não quero que o ano acabe. É bom ter alguma tristeza guardada dentro, sim, é preciso... Mas, agora, deixa eu ser feliz só um pouquinho?


Põe um pouco de amor na sua vida, como no seu samba. :)

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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Como se fosse o último

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Você disse que ia mudar, e eu acreditei

No começo, fiquei com o pé atrás
Mas você jurou, e esperneou, e chorou... Mentiu?
Passou-se uma primavera, mais evidências chegaram
Me iludi, acreditei de novo
Fui ingênua.
Agora, muito tempo se passou
Não nos arrependemos (você também disse que não, lembra?)
E você fez de novo.
Você não aprendeu nada!
Me pergunto: quantas vezes vais precisar errar?
E de novo, e de novo, e de novo...
Se tenho raiva?
Não, te amei demais para isso.
Se sinto pena?
Sim, sim:
Ainda te quero bem.

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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Qualquer coisa

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Senão, é como amar uma mulher só linda.

E daí?

Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza.
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade...

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