domingo, 20 de dezembro de 2009

Um conto, uma história

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Era uma vez uma garota chamada Lisa, e ela era diferente de todas as outras garotas - de sua idade ou não. Ela era diferente porque tinha uma coisa a mais do que o resto das pessoas: ela tinha um dom. Todos os seus amigos e familiares pensavam que ela era somente... Sortuda ou sei lá o quê, mas eles não faziam ideia da gigante coisa por trás de tudo.

Ela descobrira esse... poder - é, podemos chamar assim - ainda criança, enquanto fazia coisas que as crianças fazem, como brincar com as outras crianças. E, criança, ainda não sabia o que aquilo realmente significava; só achava legal, como qualquer criança, conseguir tudo o que queria. A diferença era que ela realmente conseguia; enquanto as outras apenas choravam. E, com isso, foi crescendo. Crescendo e aprendendo a aprimorar o seu dom, cada vez mais sabendo como utilizá-lo da melhor maneira possível: a real verdade é que utilizava-o em tudo. É, em tudo o que você pode imaginar: até nas situações mais simples do dia, não conseguia mais viver sem ele. O dom o consumia mais do que qualquer coisa, e isso não era exatamente ruim - bem, pelo menos para o que ela considerava bom e ruim, naquela época. É verdade que atraía muita inveja para si mesma, daquele jeito, conseguindo tudo o que queria... Podia ser numa liquidação, obtendo um melhor desconto; na faculdade, conseguindo a melhor nota... Palavras como faça, eu quero e já estavam marcadas em seu vocabulário. E isso, definitivamente, não era bom.

Aquela garota prodígio, afinal, já não era mais a mesma. Tinha ficado cega para o que antes considevara belo. Os amigos, primeiro, começaram a estranhar, mas depois "se acostumaram" com o seu jeito. Tem um gênio difícil, o pai falava, meio orgulhoso, meio temeroso. E ela talvez continuasse assim para sempre, se não fosse por uma pessoa.

Ele era um garoto comum, eu acho. Assim, é lógico que era incrivelmente bonito e atraente: alto, olhos verdes, cabelo dourado... Parecia um anjo. E, quem sabe, realmente o fosse - foi algo que sempre desconfiei. Além disso, ele era simpático, inteligente e estudioso, educado, vinha de uma família boa e rica... Enfim, o sonho de todas as mães.
Então ele conheceu Lisa. No começo, a achou linda (ela realmente o era) e se apaixonou. Ela, lógico, o avaliou de todas as maneiras possíveis e decidiu que ele podia ser o homem de sua vida. Saíram algumas vezes e depois de um tempo começaram a namorar. De início era tudo maravilhoso: nunca brigavam, se achavam as pessoas mais sortudas do mundo (bem, pelo menos ele) e podiam, mesmo, ter sido felizes. Se não fosse, claro, por Lisa. Depois de algum tempo e em determinadas situações, ela agia com egoísmo e maldade. Então ele começou a perceber como ela era uma pessoa vingativa e como, de um certo modo... Manipulava as pessoas. Mas ela mantinha o segredo do seu dom muito bem escondido, sempre foi assim... Como é que agora ele começava a perceber, se ninguém nunca havia notado nada? E foi exatamente isso que a fez ficar cega: ela não fazia ideia de que ele percebera. Obviamente ele não sabia, de fato, como ela o possuía. Só não a achava a mesma pessoa maravilhosa de antes. E isso, é claro, foi um dos fatores que contribuíu para o fim - que não demorou a acontecer.

Um dia, ele chegou na casa em que diviam e tomou a sua decisão: não aguentava mais. E então explicou para ela... Realmente explicou tudo, tentando não machucá-la ao máximo. Porque apesar de não amá-la mais e agora pensar umas coisas ao seu respeito bem diferentes do que havia pensado, sempre, ele não a odiava. Apenas não a queria mais por perto - só. E, enquanto despejava aquilo tudo na sala de jantar, ela o olhava com uma cara incrédula. Afinal, nunca a tinham contradito. Nunca tinham feito algo contra sua vontade. Ela falava e eles obedeciam - era assim, sempre fora. Por que agora aquele homem estava na sua frente falando de como queria deixá-la? Mas ela o esperou acabar de falar. O esperou falar tudo o que estava em sua cabeça - ela podia ver as palavras saindo, sendo libertadas. Então, quando havia dito tudo, tudo mesmo, ela respirou fundo e ordenou:

- Me ame.

E, naquela hora, ele pôde sentir. Ele sentiu a coisa vindo, entrando em seus ouvidos, o dominando. Era simples como respirar. Era fácil absorver as palavras que ela dizia, e ela parecia tão linda, ali, parada, olhando para ele. Aquela menina linda, simpática, feliz, com quem havia passado tantos momentos juntos... Me ame: aquilo meio que... Repetia dentro de sua cabeça. E então veio a visão de seu egoísmo, maldade, de como falava mal das pessoas e como era egocêntrica. Ele olhou bem fundo nos seus olhos, castanhos e profundos, e pensou "Essa é a garota com quem eu quero passar o resto da minha vida? É ela com quem eu vou dividir minhas incertezas, meus temores, minha felicidade? Eu a amo o bastante para isso?"

- Não. Eu não amo você. Estou livre.

Então ele deu as costas. E, ao sair da sala, ainda conseguia ouvir a coisa tentando entrar no seu ouvido, o chamando. Mas ele respirou fundo e seguiu em frente. Tinha acordado.

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